2007/10/22

PNL

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Os ecos da avaliação externa do PNL são "positivos", declara Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura, um programa tutelado pelos ministérios da Educação, da Cultura e dos Assuntos Parlamentares. "A avaliação é francamente positiva, mas temos de melhorar a comunicação com as escolas e bibliotecas. Temos de trabalhar mais em conjunto e numa comunicação em tempo real", admite.
Desde o início do PNL, que se tem procurado trabalhar com base numa "rede sólida de análise dos projectos", ou seja, a comissão partiu da premissa que os portugueses lêem pouco e procurou "identificar o que já tinha sido estudado e avaliado e aplicar projectos que já tivessem dado resultados seguros", conta Isabel Alçada, professora do ensino superior e autora de livros para um público infantil e juvenil.
Os resultados mais visíveis do PNL foram o "envolvimento" de professores e famílias, mas também de outros parceiros como as autarquias e as fundações. "Há um ambiente social muito receptivo à ideia da leitura", analisa.
O público-alvo do PNL "são todos os cidadãos portugueses", mas o plano tem privilegiado os estudantes, sobretudo os mais novos. "Quanto mais cedo adquirirem competências de leitura, maior é a eficácia nas suas vidas, porque ler não é só para a escola, mas para toda a vida", diz Isabel Alçada.
Uma das faces mais visíveis do PNL são as listas de livros para cada idade e os selos com o logótipo "Ler +" colados nas capas dos livros. A escolha das obras, que estão nas listas, disponíveis na Internet, é feita por uma comissão que analisa se os livros contêm erros e indicam títulos que possam ter interesse para cada ano de escolaridade e com diferentes graus de dificuldade.
O PNL apoia financeiramente as escolas na compra dos livros, mas não indica quais os que devem ser comprados. "O professor trabalha melhor com os livros que o encantam. Somos contra cânones ou imposições, mas damos os instrumentos de apoio", afirma a comissária.
Até agora, o PNL tem-se revelado um programa "económico", pois tem tido diversos apoios, congratula-se Isabel Alçada. A próxima aposta é no firmar acordos com organizações da sociedade civil que promovam o voluntariado. "Gostaríamos que na área da leitura surgissem projectos, por exemplo, de tutoria de leitura ou de acompanhamento de grupos de crianças nas bibliotecas por voluntários, como acontece noutros países", sugere.
Através da avaliação já feita é possível afirmar que "houve uma evolução", mas ainda há muito caminho a percorrer. "Nos próximos dez anos temos de continuar a avançar o mais rápido que nos for possível", conclui.

Livros nos consultórios

O médico que prescreve leitura a partir dos seis meses

Os livros de cartão, de pano e de espuma estão no mesmo armário onde se guardam as espátulas, o termómetro e outros objectos médicos necessários à consulta. É que os livros também são "instrumentos de trabalho", explica o médico de família Rizério Salgado. E são prescritos desde os seis meses.
Brevemente, a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG) vai assinar um protocolo com o Plano Nacional de Leitura (PNL) para que mais profissionais de saúde possam recomendar a leitura aos seus pacientes, antes mesmo de chegarem ao pré-escolar. Para Rizério Salgado, do núcleo de saúde infantil da APMCG, os médicos de família são os profissionais "mais bem posicionados para promover a saúde e o livro é um instrumento que lhes permite fazer bem o que de melhor sabem fazer, que é prevenir a doença", defende.Com o acordo com o PNL, a associação chega a um público que não está ainda coberto, o dos seis meses aos três anos de idade. O projecto da APMCG consiste em fazer formação para médicos, dar informação aos pais e pôr livros nos centros de saúde.
No seu trabalho, Rizério Salgado tem tido a preocupação de promover o livro junto dos pais. O médico não quer pôr as crianças a ler aos seis meses, mas defende que estas devem saber pegar num livro e usá-lo como o boneco ou o brinquedo de que mais gostam. "O livro como objecto de afecto, que faz parte do quotidiano e que se aprende a utilizar como se aprende a vestir ou a usar os talheres", explica.
O médico de família olha para o livro como um "cuidado antecipatório" que vai ajudar na adesão à escolaridade e no reforço da aprendizagem, mas também na relação entre a criança e o adulto. Por exemplo, quando está perante uma família com "pais mais esquecidos das crianças" prescreve 15 minutos de leitura por dia.
Além disso, o livro permite falar de temas traumáticos como a doença, o divórcio, a discriminação ou a morte e podem ser usados como "terapia de prevenção de uma crise".
A investigação médica, sobretudo norte-americana e inglesa, prova que a leitura faz bem à saúde. Aliás, que a educação faz bem, pois quanto maior a escolaridade, maior a probabilidade de sobrevivência. "Na promoção da leitura precoce estamos a estimular a saúde futura de toda a gente", conclui Rizério Salgado. B.W."

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