2006/06/26

Novo Livro de José Afonso Furtado

Continuação da citação do suplemento Mil Folhas, parte integrante do Público de 24 de Junho de 2006: "O livro, uma edição muito bonita, sóbria, com um grafismo e tamanho ideal, foi publicado pela editora brasileira Escritório do Livro com o apoio do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. A obra, apenas disponível no Brasil, é erudita sem deixar de ser didáctica, levanta vários problemas ligados ao livro, à evolução da escrita e às práticas sociais e mentais de leitura, lê-se numa horas, e, como o autor é exaustivo nas fontes e referências, quem quiser aprofundar ainda mais os temas ali abordados tem o trabalho de casa feito.
"O Papel e o Pixel" é uma súmula do que o autor já publicou sobre este assunto, agora mais actualizado, pois as novas tecnologias estão em constante mudança. Os capítulos são "Livro eletrônico e edição eletrônica: tentativa de definição", "Versões eletrônicas e reconceitualização do livro no mundo digital", "Mediação tecnológica e remediação" e "Técnicas, textos, usos. Questões cognitivas e práticas sociais" e ainda uma introdução e uma conclusão.
Numa nota logo no início, o autor diz-nos que o volume tem por base dois textos, um deles publicado na revista de literatura "Românica" em 2004 e um outro que fez para o projecto Ciberdifusão, nunca publicado. Mas acrescenta que "[a obra] não resulta, contudo, da sua mera reunião, pois foram ambos revistos e adaptados para publicação como volume coerente e autônomo, que foi ainda objeto de significativa ampliação com material até agora inédito".
Estamos num "campo de turbulência", escreve Furtado na pág. 30, "em que a geração de publicações que exploram as capacidades específicas do universo digital, o crescimento exponencial da Web e a vulgarização do trabalho em rede e em ambientes hipertextuais questionam algumas noções atribuíveis aos textos da cultura do impresso, como a sua fixidez, linearidade, sequencialidade, autoridade ou finitude, provocando transformações nas clássicas definições de autor, leitor e as suas relações mútuas, bem como dando lugar a novas formas de ler e de escrever". É este o ponto de partida para a reflexão que nos pode levar a questionar se, por exemplo, o livro é associado à literatura por esta ter sido "a nossa mestra de leitura" (a literatura ensinou-nos a ler ficção) e se será por termos apreendido a ler através de romances que acabamos por dar a primazia à leitura do livro sob o signo do contínuo. Ou que nos leva a olhar para o futuro, por exemplo, através das opiniões de Robert S. Boynton, para quem "inovações como iTunes da Apple poderão ser consideradas como o primeiro passo para uma sociedade em que muita da atividade cultural que hoje temos como garantida - consultar uma enciclopédia numa biblioteca, vender um manual de geometria a um amigo ou copiar uma canção para um familiar - será encaminhada para um sistema de micropagamentos como contrapartida dos direitos de peças cada vez menores da nossa cultura" (pág. 152). Ou nos leva a acreditar nas previsões da consultora jurídica da American Library Association, para a qual, ""mais cedo ou mais tarde, vamos ter que calcular o preço de uma frase" e que, quando aí chegarmos, "já não se vai poder voltar atrás"" (pág. 153).
Com "O Papel e o Pixel", José Afonso Furtado vem pôr ordem na desordem da leitura.
#
O Papel e o Pixel
Do Impresso ao Digital: Continuidades e Transformações
Autor: José Afonso Furtado
Prefácio: Aníbal Bragança
Editor: Escritório do Livro, Brasil
205 págs. ".

José Miguel Ribeiro homenageado no Porto

Continuação da citação do Público de 26 de Junho de 2006: "José Miguel Ribeiro nasceu na Amadora, em 1966. Formou-se em Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1992. Nesse ano, participou na Bienal de Jovens Criadores do Mediterrâneo, em Valência, como ilustrador, actividade a que se tem dedicado com regularidade, em paralelo com a animação. Nesta arte, iniciou-se, nos primeiros anos da década de 1990, em cursos na Gulbenkian (Lisboa) e num estágio franco-português nos estúdios Filmógrafo (Porto) e Lazennec (Bretanha). É desse tempo o episódio sobre o triplo salto que fez para a série Jogos Olímpicos. E trabalhou na série da RTP O Jardim da Celeste. Mas foi em 1999 que concretizou o seu primeiro projecto ambicioso de animação de volumes, com A Suspeita. Daí para cá, continuou a trabalhar em ilustração, realizou a série Coisas Lá de Casa, e a curta Abraço do Vento, dedicada à música de Carlos Paredes. Agora sonha com Cabo Verde.
José Miguel Ribeiro vem desde há meia dúzia de anos a tentar libertar-se do epíteto "o "gajo" que fez A Suspeita". Mas tem sido difícil. Primeiro, porque esta curta-metragem de animação de volumes garantiu já um lugar na história da animação portuguesa como o filme que acumulou mais prémios, nacionais e internacionais - o mais importante dos quais foi o Cartoon d"Or (o "Óscar" da animação europeia), conquistado em 2000, na Suécia. Depois, porque a condições de trabalho na animação no nosso país não permitem uma actividade segura e continuada, mesmo para os melhores.
A homenagem que a Casa da Animação lhe está a prestar, no Porto, com uma exposição (Desenhar o que não se vê), duas mostras de filmes (a primeira, exibida na quinta-feira, reuniu a sua obra; a segunda, a 22 de Julho, vai desvendar as suas escolhas) e um workshop, pode permitir-lhe dar o salto.
Actualmente com 40 anos, José Miguel Ribeiro vê essa homenagem como a oportunidade para fazer "o ponto da situação" da sua carreira. "Isto é uma vida muito instável, onde a maior dificuldade é a ausência de condições para um trabalho continuado", desabafa o realizador. "Estou numa fase em que tenho de tomar decisões: ou continuar com as curtas-metragens, mesmo optando por projectos mais simples e mais baratos, ou arranjar um projecto altamente comercial". É o dilema habitual de quem trabalha em animação no nosso país.
Quando fez A Suspeita, numa altura em que a animação portuguesa manifestava alguma vitalidade, Ribeiro acreditou que a situação poderia consolidar-se ou mesmo melhorar. "O que sinto hoje é um grande desequilíbrio: há poucos trabalhos de grande qualidade, mas muitos que não ultrapassam a mediania". E o prémio agora conquistado por Regina Pessoa no Festival de Annecy (França), com História Trágica com Final Feliz, é "uma rara excepção que confirma a regra", nota.
Na sua carreira, Ribeiro acrescentou, entretanto, ao êxito de A Suspeita as experiência de realização de uma série, As Coisas Lá de Casa (2001-03), e um pequeno filme dedicado à música de Carlos Paredes, O Abraço do Vento (para a peça Canto de Trabalho). Trabalhos que tem feito a partir de Montemor-o-Novo, onde actualmente vive.

"A ilustração é o meu sustento"
Mas, no nosso país, um realizador de cinema de animação tem vida difícil. A compensação, Ribeiro tem-na encontrado na direcção de workshops e, principalmente, na ilustração. "É uma coisa que gosto de fazer, mas é também o meu sustento", confessa o realizador-desenhador, que tem trabalhado para as editoras Caminho (livros de Alice Vieira e Ana Saldanha) e Âmbar (principalmente livros de Maria Teresa dos Santos Silva), mas também para revistas como a Elle ou a Cosmopolitan.
O desenho é, aliás, uma pulsão antiga na sua vida. Desde os tempos de estudante de Belas-Artes que José Miguel Ribeiro ocupa os tempos livres (e mortos) desenhando repetidamente nos pequenos cadernos sem linhas (da papelaria Fernandes). Acumulou já meia dúzia daquilo a que chama os seus "diários gráficos". "São cadernos que andam sempre comigo, e onde desenho e anoto coisas, sempre que estou à espera de alguma coisa, ou ando em viagem: desenho o que está à minha frente ou o que me vem à ideia", diz. Esses "diários gráficos" constituem, aliás, o fio condutor da exposição patente na Casa da Animação, fazendo a ligação entre os bonecos, os desenhos e os story-boards dos seus filmes.
O projecto em que Ribeiro trabalha actualmente é uma nova curta-metragem, Passeio de Domingo, novamente com argumento de Virgílio Almeida e produção de Luís da Matta Almeida (os mesmos de A Suspeita). Para o desenvolvimento do projecto, Ribeiro teve já subsídio do ICAM, mas está ainda à espera de conseguir montar uma co-produção com a Holanda e a Bélgica, de que dependerá a concretização do filme. Entretanto, viveu uma experiência de dois meses em Cabo Verde - "fui lá porque senti a necessidade de parar, de reflectir sobre o futuro", - e veio de lá com mais uma série de cadernos cheios de desenhos. Não tem ainda nenhum projecto definido, mas Ribeiro diz que gostaria de "poder contar uma história com mais tempo; dar respiração às personagens...". Talvez uma longa-metragem, ou qualquer outra coisa que preencha o seu desejo de passar do desenho à animação. E que, definitivamente, lhe permita deixar de ser visto apenas como "o "gajo" que fez A Suspeita". ".

2006/06/14

VGM, "Os livros, pois"

Crónica no Diário de Notícias de 14 de Junho de 2006:
"Os livros, pois. Levar a população, sobretudo os jovens, a ler mais. Tornar obrigatória a leitura de um conjunto de livros para cada ano escolar. Em França, os miúdos do secundário são obrigados a ler sete a oito livros por ano, para além das matérias que integram a disciplina de Francês. E têm de falar deles nas aulas... E, como nota José Augusto Cardoso Bernardes, no seu recente e importante livro Como Abordar… a Literatura no Ensino Secundário/ /Outros Caminhos (ASA, 2006), a que tenciono voltar nesta coluna, "a Literatura é hoje menos prezada nas escolas portuguesas do que nas suas congéneres espanhola (…), francesa, inglesa ou italiana, para citar apenas os exemplos onde a presença no cânone escolar é mais forte".
A grande questão todavia desdobra-se em duas: quais os livros a indicar para leitura obrigatória em cada ano escolar? E como torná- -los disponíveis rapidamente, em termos de qualidade editorial mínima, cobertura do território e acessibilidade de preço?
O primeiro aspecto carece de uma reflexão aprofundada e evolutiva. Isabel Alçada e Teresa Calçada abordam-no em entrevista ao último JL/Educação. Quanto ao segundo, uma solução consistirá em pesquisar a oferta editorial corrente no mercado e organizar os programas de leitura em função dela. Outra, em deixar as coisas a cargo dos editores e não apenas dos de livros escolares. A terceira, possivelmente mais eficiente e mais barata, consistiria em o Ministério da Educação convencer os grandes jornais e as editoras de livros para quiosque a publicarem séries completas desses livros em formato de bolso, com grande tiragem, promoção e distribuição garantidas e preço muito baixo. Devidamente negociado e calibrado, um programa deste tipo poderia dar excelentes frutos.
Mas, numa altura em que se deplora o papel negativo da televisão no tocante à regressão alarmante dos hábitos de leitura, fará sentido falar do Plano Nacional de Leitura sem considerar o papel que a televisão e a rádio (tanto a de grande audiência como as rádios locais) podem e devem ter? Se há um serviço público de televisão, neste aspecto deveria haver uma ditadura implacável do Ministério da Educação sobre esse serviço público em todos os canais dependentes do Estado. Bastava que estes consagrassem à leitura, em horário nobre, a quinquagésima parte do tempo que dedicam ao futebol para se alterar o panorama desolador que enfrentamos... Eduardo Prado Coelho acaba de escrever um artigo notável sobre o que há de enjoativo e obsceno na overdose de futebol que nos é servida como pão nosso de cada dia. E, quanto aos canais privados, seria possível o Estado incluir como contrapartidas contratuais da concessão princípios que garantissem a contemplação devida dos interesses em questão.
Sem desvalorizar, muito pelo contrário, o mérito de programas como o de Francisco José Viegas e outros, é evidente que nem o problema do défice cultural (que implicaria também uma palavra mais forte do Ministério da Cultura na área do audiovisual) nem o problema da leitura se resolvem com um simples magazine semanal, emitido lá para as tantas, nem com micronotícias sobre a actividade editorial. Ao invés, e para dar só três exemplos, pode imaginar-se o êxito que teriam séries de programas sobre a Ilíada e a Odisseia, por Frederico Lourenço, sobre Os Lusíadas, por Amélia Pinto Pais, sobre Gil Vicente, por J. A. Cardoso Bernardes…, incitando à leitura a partir das aliciantes descobertas que poderiam proporcionar.
Os melhores recursos humanos e culturais da televisão deviam ser investidos com engenho e capacidade de sugestão numa acção continuada desse tipo, relegando-se o futebol para a uma ou as duas da manhã e passando a produzir-se, com a linguagem televisiva adequada, programas social e culturalmente úteis do ponto de vista específico e prioritário do Plano Nacional de Leitura, que ocupariam a vez dos concursos idiotas e da tralha imunda que é habitual ver-se nos melhores blocos horários.
Afinal, num país de nível cultural medíocre e de nível escolar desgraçado, num país que se preocupa tanto em proibir o tabaco que acabará por fazê-lo ao nível da próprias retretes, não haverá ninguém que se preocupe em disciplinar, ao menos, a poluição dos espíritos no espaço público, abrindo segmentos televisivos e radiofónicos frequentes e adequados para coisas mais saudáveis e, sobretudo, escolarmente mais produtivas já no médio prazo?"

2006/06/02

Plano Nacional de Leitura no "Público"

"Alunos da pré-primária e 1º ciclo vão ler uma hora por dia na aula

O Governo definiu um período exacto e obrigatório para as crianças lerem na sala de aula. O Plano Nacional de Leitura foi aprovado ontem em Conselho de Ministros e apresentado por três ministros. A leitura é uma "prioridade política". E "treina-se" - como nadar ou andar de bicicleta. Por Isabel Salema

No próximo ano lectivo, os alunos da pré-primária e do 1º ciclo vão passar a ler livros, todos os dias, durante uma hora, na sala de aula. Os mais velhos, do 2º ciclo, também vão ter um período obrigatório só para ler - uma vez por semana, 45 minutos.
São três propostas do Plano Nacional de Leitura, aprovado ontem em Conselho de Ministros, e segundo explicou a sua comissária, a escritora e professora Isabel Alçada, "é a sua parte de leão".
Por ser uma "prioridade política" e "desígnio nacional", o Plano Nacional de Leitura foi apresentado, em conferência de imprensa, na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, por três ministros: da Educação, da Cultura e dos Assuntos Parlamentares. A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, disse que é "ambição" do Governo que essa prioridade política "se torne prioridade de toda a sociedade portuguesa".
O plano "surge num encadeado já longo de medidas políticas, num esforço persistente do país", disse a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que tem a responsabilidade do plano em articulação com os outros dois ministérios. Em 2007, lembrou, a rede de bibliotecas municipais faz 20 anos e a rede de bibliotecas escolares tem 10. O plano quer "tirar partido destas infra-estruturas e acrescentar dinâmicas", continuou. Foi, aliás, pedido "pelas próprias pessoas que trabalham no terreno".
Porque é que ler na sala de aula é tão importante? Porque, sublinhou a ministra da Educação, "as competências em leitura são decisivas para o sucesso escolar" e têm de ser adquiridas "de forma segura". E daí, justificou, "o foco nas idades iniciais".

Leitura orientada
"Pedimos uma hora diária de leitura orientada, o que significa que as crianças tenham também um livro por onde sigam o professor. Um livro para cada um, ou um para cada dois", explicou Isabel Alçada, professora na Escola Superior de Educação e autora de livros infanto-juvenis (ver caixa). "Não é só ouvir ler. O professor assegura que o livro é mesmo lido, porque o faz na sala de aula", continua, acrescentando que no pré-escolar é importante que as crianças observem o livro, as ilustrações, mas também o texto.
Teresa Calçada, vice-comissária do plano e coordenadora do Gabinete da Rede das Bibliotecas Escolares, diz que foi feito "um trabalho fantástico" com a rede, que no final de 2006 deverá ter cerca de 1800 bibliotecas, mas é preciso dar o passo seguinte. "Assegurar que os livros entram no quotidiano da sala de aula", afirma Isabel Alçada, criando hábitos de leitura o mais cedo possível. "Porque a leitura treina-se, é performativa, é como nadar ou andar de bicicleta."
Segundo a ministra da Educação, nas próximas semanas, o Governo vai enviar às escolas orientações sobre a concretização do programa do 1º ciclo na sala de aula. Aí, estará integrada a hora diária dedicada à leitura, que aparecerá no tempo atribuído ao Português curricular. No caso do 2º ciclo, os 45 minutos aparecerão na disciplina de Português, disse Isabel Alçada.

Listas de 600 livros sai em breve
O site do plano, que deverá estar disponível daqui a um mês, vai pôr à disposição dos professores várias listas com cerca de 600 livros, organizadas por níveis de dificuldade, para os diferentes anos de escolaridade. Há 18 níveis entre o 1º e o 6º ano, com três por ano, e um nível para o pré-escolar. "São quase 600 livros e vão estar sempre a ser actualizados. É para estimular a progressão, para os professores terem um quadro e poderem escolher com apoio", diz Isabel Alçada. "Não vamos dar nenhuma receita", diz Teresa Calçada. "É um conjunto de possibilidades de trabalho. Vamos dar um quadro de referência que permita escolher e inventar", afirma Alçada.
Estes livros, dizem ambas, vão começar a ser fornecidos às escolas. "Há meios para equipar as escolas com livros para a leitura orientada", diz Teresa Alçada. Há também listas com sugestões para os pais, porque o plano quer chegar à família.
Maria de Lurdes Rodrigues esclareceu que na primeira fase de arranque do plano está previsto um investimento entre um e dois milhões de euros para as solicitações das escolas. "Precisávamos de muito mais, do triplo", disse a ministra que, juntamente com as comissárias, tem a expectativa de encontrar mecenas e patrocínios para o plano.
O plano tem várias outras medidas, tendo esclarecido a ministra da Cultura que no âmbito do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB) está previsto um reforço das acções de promoção da leitura, como o Programa de Itinerâncias Culturais que anima as bibliotecas públicas. Essa maior "densidade" vai significar um investimento de 400 mil euros em 2007.
José Manuel Cortez, que foi destacado do IPLB para trabalhar no plano, diz que um dos objectivos "é tentar estabelecer no terreno, com competências definidas, uma rede de promotores e animadores da leitura", em articulação com o Ministério da Educação.
A comissão do Plano Nacional de Leitura vai funcionar no Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, do Ministério da Educação. "A comissão coordena os serviços dos três ministérios", explica Isabel Alçada. Os serviços são o Gabinete da Rede das Bibliotecas Escolares, o IPLB e o Instituto da Comunicação Social. Nesta estrutura, além de Isabel Alçada, vão trabalhar Teresa Calçada (Rede de Bibliotecas Escolares), Teresa Gil, José Manuel Cortez, também do IPLB, e Alexandra Lorena, do Instituto de Comunicação.
O sonho desta equipa é que surjam em Portugal associações e ONG dedicadas à promoção da leitura. E deixam uma pergunta: porque é que os pais não se associam e compram vários livros iguais e os oferecem às escolas?

A "comissária da leitura"


A comissária do Plano Nacional de Leitura, Isabel Alçada, 56 anos, tornou-se conhecida do grande público através da colecção infanto-juvenil Uma Aventura, assinada em parceria com Ana Maria Magalhães, desde 1982 (48 títulos). Com um mestrado em Análise Social da Educação na Universidade de Boston (EUA), preparou o doutoramento na Universidade de Liège (Bélgica). Leccionou Português e História no 2.º ciclo do ensino básico (1975 a 1984) e participou activamente na Reforma do Ensino Secundário em 1975/76. É professora na Escola Superior de Educação de Lisboa. R.P.


A criadora da rede das bibliotecas escolares


Teresa Calçada, 53 anos, a vice-comissária do plano, é coordenadora do Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares no Ministério da Educação, onde fica a funcionar a estrutura do Plano Nacional de Leitura. Foi convidada em 1996 para criar uma rede de bibliotecas escolares. Vinha da vice-presidência do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, onde fez parte do grupo de trabalho que levou à criação da rede de bibliotecas municipais. I.S.


22% dos alunos portugueses só dominam competências básicas da leitura

Os resultados globais não são tão maus quanto na Matemática, mas em relação à leitura são muitos os alunos portugueses de 15 anos que só têm o mais elementar nível de competências, concluiu a última edição (2003) do Programme for International Student Assessment (PISA), o maior estudo internacional sobre o desempenho educativo dos jovens, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e citado no relatório do Plano Nacional de Leitura apresentado ontem. Aplicados os testes, verificou-se que 22 por cento dos alunos fica pelo nível 1 (numa escala até 5), o que significa que esses estudantes não têm as capacidades mais básicas que o PISA quer medir ou se ficam pelas tarefas elementares, como reconhecer o tema principal do texto. O desempenho médio só não é pior por causa das raparigas. Quase 30 por cento dos rapazes não vão além do nível 1. Com as raparigas acontece com 15 por cento. Grécia, Itália e Espanha também têm resultados preocupantes. Isabel Leiria


Saramago diz que estímulo à leitura é "inútil"

Lusa

O prémio Nobel da Literatura José Saramago questionou a utilidade de o Estado estimular a leitura e disse que o "voluntarismo não vale a pena, é inútil" numa área que "sempre foi e será coisa de uma minoria", disse quarta-feira à noite num debate na Biblioteca Municipal de Oeiras. "Não vamos exigir a todo o mundo a paixão pela leitura." Saramago disse desconhecer o conteúdo do Plano Nacional de Leitura (PNL), de cuja comissão de honra faz parte (com mais 100 pessoas) por ser "uma fatalidade, como as bexigas", por causa do Nobel. Sobre o PNL disse apenas que "há dinheiro para gastar", mas resta "esperar para ver que resultados". "O estímulo à leitura é uma coisa estranha, não deveria ter que haver outro estímulo além da necessidade de um instrumento que permita conhecer." "Mal vão as coisas quando é preciso estimular", defendeu, contrapondo que "ninguém precisa de estímulos para se entusiasmar com o futebol". Ontem, a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, disse: "Discordo e acho que Saramago está a falar de um qualquer plano de leitura e não deste." Mais tarde, disse: "Estamos certos que [Saramago] vai colaborar."


Livros gratuitos para todos os bebés britânicos


Cerca de 90 por cento das crianças que nascem na Grã-Bretanha recebem hoje, gratuitamente, um conjunto de livros infantis. O programa Bookstart, iniciativa nacional da organização independente de solidariedade Booktrust, consiste em dar a cada bebé nascido no país livros que estimulem as suas capacidades de leitura e aprendizagem da língua e guias orientadores de leitura para os pais e tutores. O projecto, único no mundo, liga a família, as bibliotecas e os serviços de saúde: os livros são entregues na consulta dos 7-9 meses da criança, com informação sobre as actividades da biblioteca local. Além do primeiro conjunto de livros (Bookstart), a Booktrust tem outros programas: o Bookstart Plus, para crianças a partir dos 18 meses, o My Bookstart Treasure Chest, para crianças a partir dos 3 anos. O Bookstar Rhymetimes, organizado por maternidades e bibliotecas, cria jogos com rimas, música e ritmo. Para crianças cegas e com problemas de visão até aos 4 anos, esta organização de Londres criou o Booktouch, para criar uma ligação física com os livros. Este conjunto traz, além dos livros, informação sobre como incentivar a leitura nestas crianças. As actividades e distribuição dos livros são feitas localmente, com a colaboração da biblioteca e estruturas locais de educação e saúde. Inês Calado Saraiva"