Continuação da citação do Público de 26 de Junho de 2006: "José Miguel Ribeiro nasceu na Amadora, em 1966. Formou-se em Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1992. Nesse ano, participou na Bienal de Jovens Criadores do Mediterrâneo, em Valência, como ilustrador, actividade a que se tem dedicado com regularidade, em paralelo com a animação. Nesta arte, iniciou-se, nos primeiros anos da década de 1990, em cursos na Gulbenkian (Lisboa) e num estágio franco-português nos estúdios Filmógrafo (Porto) e Lazennec (Bretanha). É desse tempo o episódio sobre o triplo salto que fez para a série Jogos Olímpicos. E trabalhou na série da RTP O Jardim da Celeste. Mas foi em 1999 que concretizou o seu primeiro projecto ambicioso de animação de volumes, com A Suspeita. Daí para cá, continuou a trabalhar em ilustração, realizou a série Coisas Lá de Casa, e a curta Abraço do Vento, dedicada à música de Carlos Paredes. Agora sonha com Cabo Verde.
José Miguel Ribeiro vem desde há meia dúzia de anos a tentar libertar-se do epíteto "o "gajo" que fez A Suspeita". Mas tem sido difícil. Primeiro, porque esta curta-metragem de animação de volumes garantiu já um lugar na história da animação portuguesa como o filme que acumulou mais prémios, nacionais e internacionais - o mais importante dos quais foi o Cartoon d"Or (o "Óscar" da animação europeia), conquistado em 2000, na Suécia. Depois, porque a condições de trabalho na animação no nosso país não permitem uma actividade segura e continuada, mesmo para os melhores.
A homenagem que a Casa da Animação lhe está a prestar, no Porto, com uma exposição (Desenhar o que não se vê), duas mostras de filmes (a primeira, exibida na quinta-feira, reuniu a sua obra; a segunda, a 22 de Julho, vai desvendar as suas escolhas) e um workshop, pode permitir-lhe dar o salto.
Actualmente com 40 anos, José Miguel Ribeiro vê essa homenagem como a oportunidade para fazer "o ponto da situação" da sua carreira. "Isto é uma vida muito instável, onde a maior dificuldade é a ausência de condições para um trabalho continuado", desabafa o realizador. "Estou numa fase em que tenho de tomar decisões: ou continuar com as curtas-metragens, mesmo optando por projectos mais simples e mais baratos, ou arranjar um projecto altamente comercial". É o dilema habitual de quem trabalha em animação no nosso país.
Quando fez A Suspeita, numa altura em que a animação portuguesa manifestava alguma vitalidade, Ribeiro acreditou que a situação poderia consolidar-se ou mesmo melhorar. "O que sinto hoje é um grande desequilíbrio: há poucos trabalhos de grande qualidade, mas muitos que não ultrapassam a mediania". E o prémio agora conquistado por Regina Pessoa no Festival de Annecy (França), com História Trágica com Final Feliz, é "uma rara excepção que confirma a regra", nota.
Na sua carreira, Ribeiro acrescentou, entretanto, ao êxito de A Suspeita as experiência de realização de uma série, As Coisas Lá de Casa (2001-03), e um pequeno filme dedicado à música de Carlos Paredes, O Abraço do Vento (para a peça Canto de Trabalho). Trabalhos que tem feito a partir de Montemor-o-Novo, onde actualmente vive.
"A ilustração é o meu sustento"
Mas, no nosso país, um realizador de cinema de animação tem vida difícil. A compensação, Ribeiro tem-na encontrado na direcção de workshops e, principalmente, na ilustração. "É uma coisa que gosto de fazer, mas é também o meu sustento", confessa o realizador-desenhador, que tem trabalhado para as editoras Caminho (livros de Alice Vieira e Ana Saldanha) e Âmbar (principalmente livros de Maria Teresa dos Santos Silva), mas também para revistas como a Elle ou a Cosmopolitan.
O desenho é, aliás, uma pulsão antiga na sua vida. Desde os tempos de estudante de Belas-Artes que José Miguel Ribeiro ocupa os tempos livres (e mortos) desenhando repetidamente nos pequenos cadernos sem linhas (da papelaria Fernandes). Acumulou já meia dúzia daquilo a que chama os seus "diários gráficos". "São cadernos que andam sempre comigo, e onde desenho e anoto coisas, sempre que estou à espera de alguma coisa, ou ando em viagem: desenho o que está à minha frente ou o que me vem à ideia", diz. Esses "diários gráficos" constituem, aliás, o fio condutor da exposição patente na Casa da Animação, fazendo a ligação entre os bonecos, os desenhos e os story-boards dos seus filmes.
O projecto em que Ribeiro trabalha actualmente é uma nova curta-metragem, Passeio de Domingo, novamente com argumento de Virgílio Almeida e produção de Luís da Matta Almeida (os mesmos de A Suspeita). Para o desenvolvimento do projecto, Ribeiro teve já subsídio do ICAM, mas está ainda à espera de conseguir montar uma co-produção com a Holanda e a Bélgica, de que dependerá a concretização do filme. Entretanto, viveu uma experiência de dois meses em Cabo Verde - "fui lá porque senti a necessidade de parar, de reflectir sobre o futuro", - e veio de lá com mais uma série de cadernos cheios de desenhos. Não tem ainda nenhum projecto definido, mas Ribeiro diz que gostaria de "poder contar uma história com mais tempo; dar respiração às personagens...". Talvez uma longa-metragem, ou qualquer outra coisa que preencha o seu desejo de passar do desenho à animação. E que, definitivamente, lhe permita deixar de ser visto apenas como "o "gajo" que fez A Suspeita". ".
José Miguel Ribeiro vem desde há meia dúzia de anos a tentar libertar-se do epíteto "o "gajo" que fez A Suspeita". Mas tem sido difícil. Primeiro, porque esta curta-metragem de animação de volumes garantiu já um lugar na história da animação portuguesa como o filme que acumulou mais prémios, nacionais e internacionais - o mais importante dos quais foi o Cartoon d"Or (o "Óscar" da animação europeia), conquistado em 2000, na Suécia. Depois, porque a condições de trabalho na animação no nosso país não permitem uma actividade segura e continuada, mesmo para os melhores.
A homenagem que a Casa da Animação lhe está a prestar, no Porto, com uma exposição (Desenhar o que não se vê), duas mostras de filmes (a primeira, exibida na quinta-feira, reuniu a sua obra; a segunda, a 22 de Julho, vai desvendar as suas escolhas) e um workshop, pode permitir-lhe dar o salto.
Actualmente com 40 anos, José Miguel Ribeiro vê essa homenagem como a oportunidade para fazer "o ponto da situação" da sua carreira. "Isto é uma vida muito instável, onde a maior dificuldade é a ausência de condições para um trabalho continuado", desabafa o realizador. "Estou numa fase em que tenho de tomar decisões: ou continuar com as curtas-metragens, mesmo optando por projectos mais simples e mais baratos, ou arranjar um projecto altamente comercial". É o dilema habitual de quem trabalha em animação no nosso país.
Quando fez A Suspeita, numa altura em que a animação portuguesa manifestava alguma vitalidade, Ribeiro acreditou que a situação poderia consolidar-se ou mesmo melhorar. "O que sinto hoje é um grande desequilíbrio: há poucos trabalhos de grande qualidade, mas muitos que não ultrapassam a mediania". E o prémio agora conquistado por Regina Pessoa no Festival de Annecy (França), com História Trágica com Final Feliz, é "uma rara excepção que confirma a regra", nota.
Na sua carreira, Ribeiro acrescentou, entretanto, ao êxito de A Suspeita as experiência de realização de uma série, As Coisas Lá de Casa (2001-03), e um pequeno filme dedicado à música de Carlos Paredes, O Abraço do Vento (para a peça Canto de Trabalho). Trabalhos que tem feito a partir de Montemor-o-Novo, onde actualmente vive.
"A ilustração é o meu sustento"
Mas, no nosso país, um realizador de cinema de animação tem vida difícil. A compensação, Ribeiro tem-na encontrado na direcção de workshops e, principalmente, na ilustração. "É uma coisa que gosto de fazer, mas é também o meu sustento", confessa o realizador-desenhador, que tem trabalhado para as editoras Caminho (livros de Alice Vieira e Ana Saldanha) e Âmbar (principalmente livros de Maria Teresa dos Santos Silva), mas também para revistas como a Elle ou a Cosmopolitan.
O desenho é, aliás, uma pulsão antiga na sua vida. Desde os tempos de estudante de Belas-Artes que José Miguel Ribeiro ocupa os tempos livres (e mortos) desenhando repetidamente nos pequenos cadernos sem linhas (da papelaria Fernandes). Acumulou já meia dúzia daquilo a que chama os seus "diários gráficos". "São cadernos que andam sempre comigo, e onde desenho e anoto coisas, sempre que estou à espera de alguma coisa, ou ando em viagem: desenho o que está à minha frente ou o que me vem à ideia", diz. Esses "diários gráficos" constituem, aliás, o fio condutor da exposição patente na Casa da Animação, fazendo a ligação entre os bonecos, os desenhos e os story-boards dos seus filmes.
O projecto em que Ribeiro trabalha actualmente é uma nova curta-metragem, Passeio de Domingo, novamente com argumento de Virgílio Almeida e produção de Luís da Matta Almeida (os mesmos de A Suspeita). Para o desenvolvimento do projecto, Ribeiro teve já subsídio do ICAM, mas está ainda à espera de conseguir montar uma co-produção com a Holanda e a Bélgica, de que dependerá a concretização do filme. Entretanto, viveu uma experiência de dois meses em Cabo Verde - "fui lá porque senti a necessidade de parar, de reflectir sobre o futuro", - e veio de lá com mais uma série de cadernos cheios de desenhos. Não tem ainda nenhum projecto definido, mas Ribeiro diz que gostaria de "poder contar uma história com mais tempo; dar respiração às personagens...". Talvez uma longa-metragem, ou qualquer outra coisa que preencha o seu desejo de passar do desenho à animação. E que, definitivamente, lhe permita deixar de ser visto apenas como "o "gajo" que fez A Suspeita". ".
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