2006/03/31

"Pijama às Letras" na Biblioteca Municipal de Carnaxide

Jantar de Contos de Fadas
Ementa

  • Creme de Ervilhas

Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa. Mas não podia ser uma princesa qualquer! Não! Tinha que ser uma princesa digna de um conto de fadas! E para isso o príncipe correu o mundo em busca da princesa perfeita, mas acabou por voltar para casa, triste, e sem a ter encontrado.

Até que um dia, no meio de uma valente tempestade, alguém bateu à porta do palácio. Curiosa, a velha rainha foi logo ver quem era, e encontrou, para seu grande espanto, uma jovem que dizia ser uma princesa que se tinha perdido na floresta. As suas roupas estavam rasgadas, escorria água dos seus longos cabelos e os sapatos estavam ensopados. Nenhuma princesa verdadeira se apresentaria no palácio daquela forma!

Mas a rainha, que era mais esperta, resolveu fazer-lhe um teste. Convidou-a a passar a noite no palácio, e foi ela mesma preparar-lhe o quarto onde se deitaria. Tirou então toda a roupa que estava na cama, levantou o colchão, e por baixo dele colocou uma pequena ervilha. Depois juntou vinte colchões e mais vinte edredões, e colocou tudo por cima da cama. Seria aí que a princesa iria passar a noite.

Na manhã seguinte, assim que acordou, todos lhe perguntaram como tinha dormido.

- Oh, muito mal – respondeu ela – Não preguei olho a noite toda! Havia algo na minha cama que me magoou as costas e que não me deixou dormir! Foi uma noite terrível!

Assim que se ouviram estas palavras, todos tiveram a certeza de que estavam perante uma autêntica princesa, pois só uma princesa verdadeira poderia ser tão sensível a ponto de sentir uma pequena ervilha por baixo de tantos colchões. O príncipe pediu-a logo em casamento e foram muito felizes. Diz-se que a história é verdadeira, e para quem dúvidas, a ervilha ainda está guardada para poder ser vista por quem não acreditar.

(adaptado de ‘A Princesa e a Ervilha’, de H.C.Andersen)


  • Sanduíches dinamarquesas

( de frango, delícias do mar, queijo e fiambre, e presunto)

Num país muito distante, andava uma menina a passear sobre um manto de neve, quando lhe apareceu uma gralha que falava a língua das pessoas.

- Bom dia - disse-lhe ela - que fazes por aqui sozinha?

E a menina a princípio assustou-se, mas depois resolveu contar-lhe que andava à procura do seu amigo que tinha desaparecido e de quem tinha muitas saudades. A gralha respondeu-lhe que tinha visto um menino que era novo naquela terra e que podia talvez ser quem ela procurava. Os dois ficaram amigos e resolveram ir juntos até ao palácio, onde o menino tinha sido visto pela última vez. Pelo caminho a menina perguntou:

- Então mas o que está o meu amiguinho a fazer no palácio? Ele não é um príncipe!

Ao que a gralha respondeu:

- Pois não, mas uma história há que explica tudo. Vou contar-te:

Neste reino onde estamos agora, existe uma princesa que é muito inteligente e quando se decidiu a casar, fez questão de encontrar um pretendente que fosse tão inteligente quanto ela. Mandou então espalhar a palavra, que todos os jovens de boa aparência se poderiam apresentar no palácio, para que ela pudesse escolher o mais inteligente entre eles. Vieram muitos! Faziam fila aos portões do palácio! Tinham fome e tinham sede, e os mais espertos tinham trazido pequenas sanduíches dinamarquesas que não partilhavam com ninguém. Estavam muito entusiasmados mas assim que viam a princesa ficavam envergonhados e não conseguiam dizer nada! Foi então no terceiro dia que apareceu um menino, simples e de roupas pobres, que desejava apenas ouvir a princesa, sem se tornar um pretendente. Quando se encontraram a conversa resultou tão bem, que o menino acabou por ficar no palácio!

- Oh, deve mesmo ser o meu amigo, pois ele é muito inteligente! – disse a menina.

Nesse preciso instante, chegaram ambos ao palácio. A gralha entrou primeiro e de seguida arranjou maneira de a menina entrar também. Lá dentro ela procurou o seu amigo, com cuidado para não ser vista por ninguém. Por fim chegou ao quarto onde dormia a princesa e o menino de que a gralha lhe tinha falado. Aproximou-se pé ante pé, com muito jeitinho e sem fazer barulho, mas quando já estava bem perto notou que não o conhecia. Começou a chorar de tristeza e o menino acordou com o som do seu choro, revelando-se um bonito e educado príncipe. A menina contou-lhe a sua história e o príncipe teve tanta pena dela que a deixou passar a noite no palácio. No dia seguinte pela manhã, arranjou-lhe uma boa carruagem, deu-lhe roupas novas e comida e acompanhou a menina até aos portões. Ficou a acenar-lhe até a perder de vista, enquanto ela seguia caminho sem desistir, sempre com esperança de um dia encontrar o seu amigo.

(adaptado de ‘A Rainha da Neve’, Quarta história – o príncipe e a princesa, de H.C.Andersen)

  • Bolo de Maçã

Cada chave tem a sua história. Mas esta que contamos aqui, tem uma história muito especial. Era a chave da porta do Conselheiro da Câmara, e tinha o poder especial de conseguir responder a qualquer pergunta com toda a verdade. Bastava pousá-la sobre a mão, colocar-lhe uma questão, e a chave começava a girar, cada volta significando uma letra do abecedário, até formar palavras e responder ao que se lhe perguntava. Era verdadeiramente uma chave mágica!

O Conselheiro fascinado com os poderes da sua chave, fazia-lhe todo o tipo de perguntas e anotava todas as respostas num pequeno caderno que mantinha para esse efeito. E a chave falava sempre a verdade.

Uma vez, na mesma noite em que o namorado da criada a tinha vindo visitar, desapareceu do armário da cozinha meio bolo de maçã. O Conselheiro perguntou quem o tinha tirado mas ninguém se queria acusar. Pegou então na chave e perguntou-lhe:

- Quem tirou o bolo de maçã do armário? O gato ou o namorado?

A chave da porta respondeu que tinha sido o namorado e a criada não teve outra hipótese senão admitir o roubo e confessar a verdade. Então e não é que aquela chave sabia mesmo tudo?

(adaptado de ‘A Chave da Porta’, de H.C.Andersen)

Nota: Inspirado no livro Receitas de Contos de Fadas de Hans Christian Andersen, editora 101 Noites

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