Pela sua relevância didáctica, cito dois textos editados no suplemento Mil Folhas", parte integrante do jornal Público de 30 de Setembro:
"Um jornal dirigido por um rato
Rita Pimenta
Com uma ficha técnica que não é para levar a sério, a colecção do rato Geronimo Stilton tornou-se num sucesso internacional, com tradução em 35 línguas e vendas que já alcançaram os 20 milhões de exemplares. Em Itália, o país de origem da colecção, foram vendidos 2,5 milhões de livros e, nos Estados Unidos, a Scholastic imprimiu, para a tiragem inicial, um milhão de cópias. Por cá, o êxito não está a corresponder à expectativa da Editorial Presença (venderam-se 27.200 livros), mas os miúdos que gostam do Stilton gostam mesmo e já começavam a reclamar a saída do décimo volume, que foi lançado na terça-feira com o título "Pânico nos Himalaias" (cinco mil exemplares de tiragem).
Façamos uma curta apresentação deste jornalista-escritor de comportamento exemplar, mas facilmente enganado por todos - até porque é muito distraído. Eis como o próprio se dá a conhecer nas suas páginas: "A minha verdadeira paixão é escrever. Aqui em Ratázia, na Ilha dos Ratos, os meus livros são todos "best-sellers". O quê? Não os conhecem? São histórias para rir, mais delicadas que queijo fresco, mais apetitosas que o da Serra, mais suculentas que o cabreiro... histórias mesmo ratonas, palavra de Geronimo Stilton!"
É formado em Ratologia da Literatura Rática, em Filosofia Arqueorrática Comparada e há 20 anos que dirige o "Diário dos Roedores". Nos tempos livres, colecciona cascas antigas de parmesão do século XVIII e joga golfe. No entanto, nada o satisfaz mais do que contar histórias ao seu sobrinho Benjamim.
Ficção à parte, uma das obras conquistou o prémio eBook Award 2002 como melhor livro electrónico infantil e em 2001 o rato já tinha sido considerado a personagem do ano pelo Prémio Andersen. Quem escreve de facto as histórias e está por trás deste roedor nunca é revelado pelas editoras que exploram os direitos da colecção. Pode ser um homem, uma mulher ou até mesmo uma criança. Se se quiser solicitar uma entrevista, as respostas serão dadas por Stilton! - e ponto final.
Sogro avarento, casamento falhado
Em "O Castelo do Lorde Avarento", o rato e a sua irmã Tea são convidados pelo tio Semilorde Zanzibar - a quem chamam "o Piolhoso" e que vive em Penedos Avaros, no Castelo de Rocha Sovina - para o casamento "de seu filho Pimpolho Zanzibar com Cloaquina Cheiroti-Bafius". No final do convite, vinha a seguinte nota: "Agradece-se presente, aliás obrigatório!!!" (pág. 11).
Correu tudo mal para Stilton, que se tornou imediatamente alvo das partidas do primo Esparrela, primeiro com um pó de comichão que o obrigou a tirar as calças em frente aos convidados, depois com uns bombons laxantes, etc. Para os restantes familiares do rato, a estada no castelo também não foi agradável. A avareza daquele Zanzibar levou a que todos passassem fome e frio. A própria noiva percebeu em que sarilhos se ia meter e já não se casou. Deixou o noivo e o pai avarento no castelo e, à boleia na moto da irmã de Stilton, foi viver para a Ratázia.
No final, conclui o rato: "Não sei como será a vossa família, mas a minha é mesmo estranha e cómica. Aliás, todas as famílias são assim... ou não são?" (pág. 117).
Observar as crianças a ler um livro de Geronimo Stilton pode ser muito engraçado, pois algumas delas soltam verdadeiras gargalhadas. Uma característica que também as atrai é o dinamismo da mancha gráfica e dos próprios caracteres. Há vários tipos de letra, cores diferentes no meio do texto, distorção de caracteres, texto em forma de caracol ou a própria palavra transformada numa espécie de ilustração do que é dito. Por exemplo: a expressão "faz frio de mais" aparece em dois tons de azul, grafada com letras grandes e cobertas de neve (pág. 83); a palavra "brilhante" surge em dourado e parece brilhar mesmo (pág. 98).
Também o facto de existir no final de cada livro o mapa da Ilha dos Ratos, aparecer cartografada a cidade da Ratázia e mostrar-se a planta do edifício do "Diário dos Roedores" ajuda os leitores a ter a percepção do espaço em que as histórias acontecem. E as crianças gostam disso. Na verdade, nós também.
#
O Castelo do Lorde Avarento
Autor Geronimo Stilton
Ilustrador Roberto Ronchi
Grafismo Merenguita Gingermouse e Aurela De Rosa
Tradutor Carlos Grifo Babo
O fascínio por pedras grandes
Rita Pimenta
Ninguém fica indiferente a um menir ou a uma anta. Prova recente disso mesmo foi a mobilização de mais de 200 pessoas para erguer por métodos primitivos um monumento megalítico de 15 toneladas e sete metros, no Barrocal (Reguengos de Monsaraz). Aconteceu no dia 23 de Setembro - ou melhor, não chegou a acontecer, mas isso não interessa.
As pedras grandes atraem, e o Ricardo, a Rita e o André não resistiram a visitar, durante a noite, as Antas do Olival da Pega, em Monsaraz (mais precisamente Sharish, a terra de Balen al-Farah). Foram às escondidas de Sara, que pensara ter conseguido dissuadi-los dessa arriscada aventura. "Não podiam conceber as perigosas forças que se concentram e escondem em certos locais" (pág. 41).
Seguiu-os, mas, quando os avistou, já não pôde impedir que entrassem na anta. Atirou-se também lá para dentro e regressou assim ao reino da sua mãe, Zaida, uma moura encantada. O povo de origem de Sara vai pedir-lhe então ajuda na demanda do elmo de cristal, uma arma cobiçada pelos povos rivais das Terras Encantadas. Os talentos de Ricardo, de Rita e de André também terão um papel importante no impedimento do avanço das forças demoníacas dos Encobertos.
Francisco Dionísio, o autor de "Elmo de Cristal / Os Mouros das Terras Encantadas", consegue criar um ambiente fantástico que envolve o leitor e o faz acompanhar com interesse as personagens, quer as reais, por assim dizer, quer as lendárias. As descrições, os pormenores e as ligações com os espaços geográficos alentejanos são bem doseados entre os quadros de maior acção, sempre cativantes para os jovens, e suscitam vontade para visitar monumentos megalíticos.
(Há uma irritante confusão entre "concelhos" e "conselhos", pág. 114.)
No final, regista-se um pequeno glossário, de que se transcrevem aqui alguns termos interessantes que se repetem ao longo do livro. Al-Andaluz: nome atribuído pelos árabes à Península Ibérica; Rio Anas: rio Guadiana, cuja junção deriva da palavra árabe "uadi" (rio) com a palavra "ana" (água); Sharish ou Xaris: nome de Monsaraz durante a ocupação islâmica.
O autor desta história, que não é apenas de aventuras, apoiou-se em estudos de Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso, José Leite de Vasconcelos e Gentil Martins. Fez bem.
#"Um jornal dirigido por um rato
Rita Pimenta
Com uma ficha técnica que não é para levar a sério, a colecção do rato Geronimo Stilton tornou-se num sucesso internacional, com tradução em 35 línguas e vendas que já alcançaram os 20 milhões de exemplares. Em Itália, o país de origem da colecção, foram vendidos 2,5 milhões de livros e, nos Estados Unidos, a Scholastic imprimiu, para a tiragem inicial, um milhão de cópias. Por cá, o êxito não está a corresponder à expectativa da Editorial Presença (venderam-se 27.200 livros), mas os miúdos que gostam do Stilton gostam mesmo e já começavam a reclamar a saída do décimo volume, que foi lançado na terça-feira com o título "Pânico nos Himalaias" (cinco mil exemplares de tiragem).
Façamos uma curta apresentação deste jornalista-escritor de comportamento exemplar, mas facilmente enganado por todos - até porque é muito distraído. Eis como o próprio se dá a conhecer nas suas páginas: "A minha verdadeira paixão é escrever. Aqui em Ratázia, na Ilha dos Ratos, os meus livros são todos "best-sellers". O quê? Não os conhecem? São histórias para rir, mais delicadas que queijo fresco, mais apetitosas que o da Serra, mais suculentas que o cabreiro... histórias mesmo ratonas, palavra de Geronimo Stilton!"
É formado em Ratologia da Literatura Rática, em Filosofia Arqueorrática Comparada e há 20 anos que dirige o "Diário dos Roedores". Nos tempos livres, colecciona cascas antigas de parmesão do século XVIII e joga golfe. No entanto, nada o satisfaz mais do que contar histórias ao seu sobrinho Benjamim.
Ficção à parte, uma das obras conquistou o prémio eBook Award 2002 como melhor livro electrónico infantil e em 2001 o rato já tinha sido considerado a personagem do ano pelo Prémio Andersen. Quem escreve de facto as histórias e está por trás deste roedor nunca é revelado pelas editoras que exploram os direitos da colecção. Pode ser um homem, uma mulher ou até mesmo uma criança. Se se quiser solicitar uma entrevista, as respostas serão dadas por Stilton! - e ponto final.
Sogro avarento, casamento falhado
Em "O Castelo do Lorde Avarento", o rato e a sua irmã Tea são convidados pelo tio Semilorde Zanzibar - a quem chamam "o Piolhoso" e que vive em Penedos Avaros, no Castelo de Rocha Sovina - para o casamento "de seu filho Pimpolho Zanzibar com Cloaquina Cheiroti-Bafius". No final do convite, vinha a seguinte nota: "Agradece-se presente, aliás obrigatório!!!" (pág. 11).
Correu tudo mal para Stilton, que se tornou imediatamente alvo das partidas do primo Esparrela, primeiro com um pó de comichão que o obrigou a tirar as calças em frente aos convidados, depois com uns bombons laxantes, etc. Para os restantes familiares do rato, a estada no castelo também não foi agradável. A avareza daquele Zanzibar levou a que todos passassem fome e frio. A própria noiva percebeu em que sarilhos se ia meter e já não se casou. Deixou o noivo e o pai avarento no castelo e, à boleia na moto da irmã de Stilton, foi viver para a Ratázia.
No final, conclui o rato: "Não sei como será a vossa família, mas a minha é mesmo estranha e cómica. Aliás, todas as famílias são assim... ou não são?" (pág. 117).
Observar as crianças a ler um livro de Geronimo Stilton pode ser muito engraçado, pois algumas delas soltam verdadeiras gargalhadas. Uma característica que também as atrai é o dinamismo da mancha gráfica e dos próprios caracteres. Há vários tipos de letra, cores diferentes no meio do texto, distorção de caracteres, texto em forma de caracol ou a própria palavra transformada numa espécie de ilustração do que é dito. Por exemplo: a expressão "faz frio de mais" aparece em dois tons de azul, grafada com letras grandes e cobertas de neve (pág. 83); a palavra "brilhante" surge em dourado e parece brilhar mesmo (pág. 98).
Também o facto de existir no final de cada livro o mapa da Ilha dos Ratos, aparecer cartografada a cidade da Ratázia e mostrar-se a planta do edifício do "Diário dos Roedores" ajuda os leitores a ter a percepção do espaço em que as histórias acontecem. E as crianças gostam disso. Na verdade, nós também.
#
O Castelo do Lorde Avarento
Autor Geronimo Stilton
Ilustrador Roberto Ronchi
Grafismo Merenguita Gingermouse e Aurela De Rosa
Tradutor Carlos Grifo Babo
O fascínio por pedras grandes
Rita Pimenta
Ninguém fica indiferente a um menir ou a uma anta. Prova recente disso mesmo foi a mobilização de mais de 200 pessoas para erguer por métodos primitivos um monumento megalítico de 15 toneladas e sete metros, no Barrocal (Reguengos de Monsaraz). Aconteceu no dia 23 de Setembro - ou melhor, não chegou a acontecer, mas isso não interessa.
As pedras grandes atraem, e o Ricardo, a Rita e o André não resistiram a visitar, durante a noite, as Antas do Olival da Pega, em Monsaraz (mais precisamente Sharish, a terra de Balen al-Farah). Foram às escondidas de Sara, que pensara ter conseguido dissuadi-los dessa arriscada aventura. "Não podiam conceber as perigosas forças que se concentram e escondem em certos locais" (pág. 41).
Seguiu-os, mas, quando os avistou, já não pôde impedir que entrassem na anta. Atirou-se também lá para dentro e regressou assim ao reino da sua mãe, Zaida, uma moura encantada. O povo de origem de Sara vai pedir-lhe então ajuda na demanda do elmo de cristal, uma arma cobiçada pelos povos rivais das Terras Encantadas. Os talentos de Ricardo, de Rita e de André também terão um papel importante no impedimento do avanço das forças demoníacas dos Encobertos.
Francisco Dionísio, o autor de "Elmo de Cristal / Os Mouros das Terras Encantadas", consegue criar um ambiente fantástico que envolve o leitor e o faz acompanhar com interesse as personagens, quer as reais, por assim dizer, quer as lendárias. As descrições, os pormenores e as ligações com os espaços geográficos alentejanos são bem doseados entre os quadros de maior acção, sempre cativantes para os jovens, e suscitam vontade para visitar monumentos megalíticos.
(Há uma irritante confusão entre "concelhos" e "conselhos", pág. 114.)
No final, regista-se um pequeno glossário, de que se transcrevem aqui alguns termos interessantes que se repetem ao longo do livro. Al-Andaluz: nome atribuído pelos árabes à Península Ibérica; Rio Anas: rio Guadiana, cuja junção deriva da palavra árabe "uadi" (rio) com a palavra "ana" (água); Sharish ou Xaris: nome de Monsaraz durante a ocupação islâmica.
O autor desta história, que não é apenas de aventuras, apoiou-se em estudos de Teófilo Braga, Consiglieri Pedroso, José Leite de Vasconcelos e Gentil Martins. Fez bem.
Elmo de Cristal / Os Mouros das Terras Encantadas
Autor Francisco Dionísio
Editor Prime Books"
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