"[...] O investimento foi anunciado pelo primeiro-ministro José Sócrates: até ao final do ano lectivo, todas as escolas do ensino básico estarão integradas na rede de bibliotecas escolares, o que implica um investimento de cinco milhões de euros, noticia a Lusa.
O Ministério da Educação vai investir 1,5 milhões de euros no apetrechamento de bibliotecas com livros, e as autarquias investirão outros 1,5 milhões de euros com o mesmo fim. A rede de bibliotecas nas escolas básicas vai ser concluída com a construção de 130 novos espaços e em 17 secundárias serão renovadas as bibliotecas. Nos últimos dez anos, foram criadas 1880 bibliotecas, 847 no 1.º ciclo e 1033 nos restantes, tendo sido investidos 33,5 milhões em recurso técnicos e docentes.
Maria de Lurdes Rodrigues elogiou o trabalho do Gabinete de Bibliotecas Escolares, com poucos recursos humanos e sob a "liderança segura" de Teresa Calçada, desde que foi criado, há dez anos. "Dou os parabéns à coordenadora, mas também ao ministro da Educação de então [Marçal Grilo] e aos seguintes, que foram respondendo pela política educativa".
Para José Sócrates, as bibliotecas "favorecem o acesso de todos aos livros e à leitura, a escola fica mais completa e serve melhor os alunos e, se forem organizadas segundo um padrão nacional, reduzem as desigualdades e as assimetrias".
Bibliotecas em meio rural
Fazendo referência a um dos estudos que serão hoje apresentados, Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura, diz que as bibliotecas escolares têm maior importância nos meios rurais, provavelmente porque nos urbanos há mais recursos. Contudo, segundo o inquérito aos Hábitos de Leitura da População Escolar, a importância da biblioteca escolar vai diminuindo à medida que os alunos vão crescendo em idade e exigências de leitura.
Os estudantes vão à biblioteca para procurar livros, mas o seu número diminui drasticamnente do 2.º ciclo para o secundário, onde apenas 12 por cento dizem recorrer àquele espaço para esse efeito. A biblioteca serve também para preparar trabalhos escolares. Para isso, é procurada por 35 por cento dos alunos do 2.º ciclo, 23 por cento do 3.º e 21 por cento do secundário. Em sentido contrário sobe o uso da Internet, que é mais procurada pelos do secundário (22 por cento).
Também o estudo A Leitura em Portugal, coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, do Observatório das Actividades Culturais, sobre os hábitos de leitura dos portugueses, se debruça sobre o uso da biblioteca. No universo de 2552 inquiridos, foi criada uma subamostra de 737 pais e encarregados de educação que dizem que, em 36,5 por cento dos casos, os seus filhos nunca frequentaram a biblioteca escolar e 50,6 nunca foram à biblioteca municipal. Porque não o fazem? Porque têm outras maneiras de aceder aos livros, respondem.
No entanto, os que frequentam consideram que a biblioteca pode estimular a leitura dos filhos de várias formas porque tem uma selecção adequada de livros para as suas idades, oferece condições para desenvolver trabalhos escolares e tem um ambiente atractivo.
No entender de Isabel Alçada, ainda há muito trabalho a fazer, porque "a leitura não é só para a escola, mas é essencial para a vida", conclui a coordenadora do PNL.
4,7%
Quase cinco por cento de não leitores, quase quatro quintos dos não leitores de livros e jornais lêem... contas e recibos."
Estudantes crescem e tornam-se leitores menos entusiasmados
23.10.2007
Gostam de ler. Não o fazem só por obrigação escolar, mas porque gostam de livros de aventuras, banda desenhada... E romances, dizem os mais velhos. As raparigas parecem gostar mais do que os rapazes, para quem a leitura é um aborrecimento
Ao contrário do que diz o senso comum, os estudantes não são tão maus leitores quanto isso. Lêem, gostam de ler e não lêem pouco, diz o estudo sobre os Hábitos de Leitura da População Escolar, coordenado por Mário Lages, da Universidade Católica Portuguesa, que é hoje apresentado na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
É no 2.º ciclo, quando os estudantes estão no 5.º e no 6.º anos, que aparentam ser leitores mais entusiasmados. Lêem livros juvenis, de aventuras, banda desenhada, mas gostam menos de romances. São os mais velhos, os alunos do secundário, quem dedica mais tempo a este género literário.
Se, no 2.º ciclo, nove em cada dez alunos dizem que gostam de ler, no secundário apenas três em cada dez confessam "gostar muito", revela o inquérito do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Católica. A análise foi feita com base em cinco inquéritos realizados a cerca de 24 mil alunos do 1.º ao 12.º anos, em Portugal continental, no final de 2006 e princípio de 2007.
"É nos primeiros anos que se formam atitudes e comportamentos face à leitura, os quais irão condicionar em grande medida o futuro gosto de ler", escreve-se no capítulo das conclusões. E embora, nos primeiros anos, além da leitura, as crianças tenham outras actividades muito diversificadas que combinam o físico e o intelectual, o que se observa é que, 61 por cento dos meninos dos 3.º e 4.º anos confessam que "gostam muito" de ler. É no 2.º ciclo, quando já sabem ler bem e compreender o que está escrito, que os alunos se entusiasmam com a leitura: 90 por cento diz "gostar muito ou assim-assim de ler" - é a percentagem mais elevada dos quatro níveis de ensino. Apenas quatro por cento não dedicam nenhum tempo diário à leitura de livros não escolares, jornais ou revistas. Os pré-adolescentes manifestam uma atitude positiva e associam à leitura conceitos como "imaginação, aprendizagem, diversão, prazer e utilidade".
Contudo, estes dados são vistos com alguma precaução pela equipa de Mário Lages, que considera as respostas dos alunos um pouco inflacionadas. "Estes alunos já entendem qual o papel do inquirido e o que dele é esperado", justifica. No entanto, cabe à família, à escola e ao grupo de pares não deixar esmorecer o entusiasmo que sentem por um "novo mundo", recomenda o estudo.
Chegados ao 3.º ciclo, os valores caem: há 29 por cento dos inquiridos que dizem "gostar pouco ou nada de ler". Quase 3/4 não leram outros livros que não os escolares, mais de metade não tinha lido sequer os escolares e cerca de um terço não leu jornais ou revistas, no último ano. E o desinteresse vai crescendo à medida que passam de ano, ou seja, é maior no 9.º do que no 7.º ano.
No caso do ensino secundário, verifica-se um movimento inverso: o gosto cresce quase exponencialmente dos que desejam ficar pelo 12.º ano até aos que pretendem chegar ao doutoramento, revela o inquérito. Portanto, são estes últimos que mais gostam de ler. No secundário, 29 por cento dizem que "gostam muito" de ler e, entre estes, há cinco por cento que se confessam viciados na leitura.
Em todos os ciclos, as raparigas revelam-se mais interessadas na leitura do que os rapazes e despendem mais tempo com esta actividade. Para elas, ler está a associado ao desejo de conhecer coisas novas, de aprender e de se divertir; para eles, é um aborrecimento, fazem-no com esforço, por dever e consideram que é uma inutilidade.
As crianças e jovens gostam de falar sobre o que lêem com a mãe (46 por cento), um amigo (41 por cento), os irmãos (26 por cento), o pai (25 por cento), o professor (oito por cento) e o bibliotecário (2 por cento). A intervenção da família revela-se importante. O estudo mostra que são os pais com maior escolaridade que inculcam o gosto e o hábito de leitura aos mais novos.
Dois em cada três estudantes diz ter entre 20 a 100 títulos e apenas nove por cento referem ter mais de 500 livros. O estudo aponta que o não gostar de ler resulta de uma ausência de livros em casa, mas também de incentivo, de utilização de espaços de leitura e troca de livros.
Os professores têm um papel importante, sobretudo junto dos alunos de famílias com menos recursos e nos meios rurais, "possivelmente" onde há menor oferta cultural. B.W."
Plano Nacional de Leitura "globalmente positivo"
23.10.2007
O balanço do Plano Nacional de Leitura (PNL) é "globalmente positivo", sobretudo no que diz respeito à adesão das escolas e autarquias. Todos os actores envolvidos são da opinião que o projecto deve continuar, apontam os resultados da Avaliação Externa do PNL, feita pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (CIES/ISCTE), coordenado por António Firmino da Costa. O estudo é hoje apresentado na Gulbenkian, em Lisboa.
A adesão das escolas ao PNL é positiva: 7500 (incluindo jardins-de-infância e escolas de 1.º e 2.º ciclos), o que corresponde a um milhão de crianças envolvidas. Também as bibliotecas públicas estão a trabalha projectos de promoção da leitura. Do ponto de vista financeiro, 676 escolas receberam reforço de orçamento para comprar livros para ler na sala de aula, num valor de cerca de um milhão e meio de euros. Cerca de 150 autarquias estabeleceram protocolos para apoio das escolas dos seus concelhos.
O CIES/ISCTE fez um inquérito a que responderam mais de 35 por cento das escolas. Para 83 por cento das inquiridas, o PNL é positivo para reforçar a promoção da leitura, nomeadamente na sala de aula.
A adesão dos alunos às actividades é avaliada como "forte ou muito forte" nos vários níveis de ensino. No inquérito, as escolas respondem que as actividades foram "muito favoráveis" ao incremento de práticas de leitura dos alunos, do seu interesse e das suas competências. Em cerca de 70 por cento, os professores terão notado progressos "parciais" dos alunos no domínio da leitura.
Mas os inquiridos também enunciam dificuldades. A saber: o tempo e os recursos disponíveis, que são considerados por 77 por cento das escolas como escassos. O CIES/ISCTE fez ainda estudos de caso em 17 escolas, 14 bibliotecas escolares, sete públicas e oito câmaras municipais. Nestes, os aspectos menos positivos que apontam são os atrasos na comunicação de iniciativas, críticas às listas de livros e a não inclusão de algumas escolas nos apoios financeiros.
E como é que o público em geral acompanha o PNL? Mais de metade dos inquiridos com ensino superior já ouviu falar (53 por cento), mas, à medida que a escolaridade diminui, decresce o número dos sabem o que é. Apesar disso, a opinião é unânime: um plano destes é "importante, ou mesmo muito importante, para desenvolver os hábitos e as capacidades de leitura dos portugueses". B.W.
77%
A maioria das escolas inquiridas (77 por cento) considera escasso o tempo e os recursos disponíveis para aplicar o PNL "
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